segunda-feira, 25 de agosto de 2014

AGOSTO DE 1954: A GRANDE TRAGÉDIA

O suicídio e a Carta Testamento

Na tragédia "Júlio Cesar" de W. Shakespeare, num primeiro momento, a morte do ditador César é recebida com aplausos mas graças ao discurso de Marco Antônio, seu amigo e seguidor, a multidão muda de lado. Em pouco tempo os assassinos de César são perseguidos, mortos ou obrigados a fugir. O mesmo ocorreu após a morte de Getúlio Vargas. Depois de uma reunião ministerial em que verificou-se a inutilidade de qualquer resistência (um manifesto de Brigadeiros foi seguido de um de Generais que pediam sua renúncia), Vargas recolheu-se aos seus aposentos e, na manhã do dia 24 de agosto de 1954, suicidou-se com um tiro no peito. Seu Marco Antônio foi a Carta Testamento imediatamente lida em todas as rádios onde Vargas explicava de uma maneira extremamente comovente as razões do seu gesto. A opinião pública enfurecida voltou-se contra seus inimigos. Jornais foram invadidos e rádios incendiadas ou depredadas, a Embaixada americana atacada e Carlos Lacerda obrigado a refugiar-se no exterior. O golpe que estava em andamento para depor Vargas foi sustado. Um verdadeiro levante de massas impediu que a normalidade constitucional fosse rompida naquele momento. Mas as forças que levaram Vargas ao suicídio em 1954 não desistiram. Rejeitadas alguns anos depois tornam-se valiosas em 1964. O gesto do presidente protelou o golpe militar em dez anos.
A Carta Testamento


"Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão direito de defesa. (...) Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais posso vos dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. (...) Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História."

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