terça-feira, 7 de outubro de 2014

Marina não acreditou na rede (Pedro Doria)

Em vez de usar a internet para arregimentar mais eleitores, PSB apostou numa campanha convencional. Deu no que deu

Esta já é a eleição mais surpreendente da história republicana desde a restauração da democracia, em 1985. Bate até a de 1989. A análise de como e por que Marina Silva subiu tão alto e então encolheu não será feita de uma só vez. Virá aos fragmentos, aos poucos, conforme a distância das emoções e do tempo o permitirem. Mas há um ponto em sua campanha que chama a atenção: Marina não acreditou na rede. Na internet. Para alguém que aposta numa visão de sociedade que se organiza em redes, é surpreendente. E o erro pode ter-lhe custado a vaga no segundo turno.
No dia em que Eduardo Campos morreu e Marina foi alçada a cabeça de chapa, ela tinha à frente uma cesta de trunfos e reveses. A comoção popular perante a tragédia era uma vantagem. Sua capacidade de circular confortavelmente entre a política econômica tucana e a social petista, outra. A história pessoal de superação e a habilidade de seduzir de evangélicos conservadores à esquerda progressista completavam o pacote. Antes de seus próprios erros, da intransigência na composição de alianças, porém, uma desvantagem já era óbvia. A candidata do PSB tinha pouco mais de dois minutos diários na TV contra 12 da presidente Dilma Rousseff.
O PT e a presidente usaram a folga no tempo para atacar Marina, às vezes com brutalidade. A legislação eleitoral brasileira tem um “bug”: se um candidato capaz de conquistar 20% dos votos à presidência em duas eleições seguidas pode terminar com tão pouco tempo na televisão para expor suas ideias, é a legislação que está errada. Mas esta era uma desvantagem conhecida quando Marina assumiu a candidatura. Ela tinha uma possibilidade de defesa: a internet e as redes sociais. Ou o exemplo de Barack Obama.
Em 2008, o desgaste de George W. Bush, então presidente republicano nos EUA, era tão grande que o candidato democrata podia contar como certa sua vitória. Nas primárias que definiriam tal candidato, todas as apostas apontavam para Hillary Clinton. Mulher de ex-presidente, ela tinha nas mãos a máquina do partido. Em resumo: os contatos das pessoas-chaves em cada condado que eram capazes de levar eleitores às urnas para definir quem os representaria na corrida pela Casa Branca. Senador de primeiro mandato, ainda pouco conhecido, Obama usou a internet.
Como ainda não havia redes sociais sofisticadas como hoje, a campanha desenvolveu sua própria. Primeiro para fazer um imenso cadastro de simpatizantes. Depois para transformá-los em embaixadores. Milhões de cidadãos que, a cada debate, recebiam orientação sobre como responder dúvidas. Como atacar boatos. (Boatos eram coisa de republicanos.) Como reunir mais simpatizantes. A internet era uma máquina que permitia dizer a milhões: você é importante, nos ajude, espalhe nossa mensagem.
Com seu discurso sobre redes, era obrigação de Marina já ter sua própria rede armada. Mesmo que não a tivesse, houve tempo e espaço na imprensa suficiente para construir um exército para responder à propaganda da TV. O PSB, no entanto, fez uma campanha convencional. Quem usou a internet para mobilizar com eficiência foi o PT.
Não custa ao leitor perceber a rede petista: ontem mesmo, já circulavam pelas redes uma penca de exemplos de eleitores tucanos preconceituosos. Todos apócrifos. A máquina de difamação já começou a operar. É uma pena, talvez. Existem outras formas de usar as redes para fazer política. Para reunir, discutir, promover ideias. Debater com adversários. Mobilizar grupos para a campanha. Envolver. Ou, talvez, isso seja só romantismo.
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