domingo, 13 de julho de 2014

Copa abafa protestos, encurrala Fifa e deixa esperanças para 2016

São Paulo (SP)

“Transcorreu em paz, com muita alegria e com toda a infraestrutura funcionando", definiu a presidente Dilma Roussef, em uma de suas entrevistas para analisar a realização da Copa do Mundo no Brasil. Se a preparação foi sob uma enxurrada de críticas, o decorrer da competição realmente surpreendeu. Após atrasos e superfaturamentos nas obras, o Mundial encerrado neste domingo superou as expectativas.
O fator negativo de maior relevância, aliás, ficou relacionado à entidade que mais criticou o país nos meses anteriores, e chegou a afirmar que o Brasil poderia não ter sido a melhor escolha. Em uma operação denominada “Jules Rimet”, a Polícia Civil do Rio de Janeiro desvendou um esquema ilegal de venda de ingressos, que envolve homens de muita proximidade à cúpula da Fifa.
De acordo com os responsáveis pela operação, a Match, empresa com direito exclusivo sobre venda de ingressos da Fifa, aproveitava o privilégio para desviar entradas a um mercado paralelo. Sendo assim, Mohamed Lamine Fofana tinha a função de distribuir os cobiçados bilhetes a agências de turismo ou pessoas físicas, movimentando cerca de R$ 200 milhões.
Após as primeiras investigações, indicando que a operação existe desde 2002, a Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu 12 pessoas, entre eles, Mohamed Lamine Fofana e Raymond Whelan, CEO da Match que pagou R$ 5 mil de fiança para deixar a cadeia. O caso serviu para endossar as suspeitas sobre a índole dos mandatários da Fifa, já que a entidade também está envolvida em suspeitas de corrupção relacionadas à escolha do Catar como sede da Copa do Mundo de 2002.
AFP
Ray Whelan, CEO da Match e próximo de Blatter, foi preso em operação para desvendar máfia dos ingressos
O mandatário da entidade, no entanto, ainda tenta a gravidade das descobertas. De acordo com Joseph Blatter, que também chegou a mostrar preocupação com a realização da Copa no Brasil meses antes da abertura, tudo foi ótimo. Já na reta final da o presidente da Fifa aproveitou para ‘cutucar’ os críticos, reforçando a confiança que tinha na parceria feita com o Governo Federal.“Quando você trabalha com parceiros como os governos, onde a base é a confiança, é mais fácil. Ainda temos oito jogos pela frente, então, vamos torcer para que sejam no mesmo padrão e atmosfera de até agora. Tudo está ótimo, estádios estão magníficos. Posso dizer, indiscutivelmente, que é um sucesso. Onde estão todos os problemas que falaram antes? Só tenho a agradecer todo o povo brasileiro que aceitou a Copa”, avaliou Joseph Blatter.
Com relação ao temor criado às vésperas do Mundial, os problemas do país foram bem maquiados. Houve poucos relatos sobre atos de violência – uma das exceções foi a morte de um jornalista argentino atingido por um carro envolvido em perseguição policial. As manifestações também perderam força, facilitando a mobilidade dos turistas que visitaram o Brasil nesta época.
Djalma Vassão/Gazeta Press
Após muita desconfiança, a mobilidade dos torcedores foi tranquila nas cidades-sede durante a Copa
A presença dos estrangeiros no Brasil foi uma das coisas mais positivas deste Mundial. Pelas ruas das cidades-sede foi possível perceber uma relação harmoniosa entre brasileiros e seus visitantes. Uma pesquisa prévia feita pela empresa GMR Inteligência de Mercado a pedido da Secretaria de Turismo/Riotur, divulgada na última sexta-feira, apontou que a hospitalidade no Rio de Janeiro foi aprovada por 97,1% daqueles que visitaram a Cidade Maravilhosa.São Paulo também foi palco desta integração amistosa. Desde os primeiros dias da Copa do Mundo, era possível perceber que pessoas de diferentes nacionalidades transitavam pela Avenida Paulista, um dos principais cartões postais do município. Um balanço inicial realizado antes do último final de semana indica que a cidade terá um retorno financeiro de R$ 1 bilhão, sendo que o número de turistas ultrapassará 500 mil, sendo 200 mil estrangeiros.
Os dados iniciais superam as expectativas anteriores ao Mundial, quando o planejado era receber cerca de 70 mil turistas de outros países, para que a Copa rendesse aproximadamente R$ 700 milhões. A ocupação de hotéis teve média de 64%, subindo para 75% na véspera e em dias de jogos. “Os depoimentos dos nossos visitantes falam muito sobre como eles foram bem recebidos, a imprensa relatou diversos casos de solidariedade e do acolhimento dos paulistas e paulistanos”, disse a vice-prefeita Nádia Campeão.
Fernando Dantas/Gazeta Press
Vaiada na abertura, Dilma Roussef compareceu ao encerramento para entregar a taça da 'Copa das Copas'
O panorama surpreendentemente positivo ao final desta Copa ajuda a projetar uma realização dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, com menos problemas do que era possível imaginar no primeiro semestre deste ano. O sucesso serviu para animar o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, que se reuniu com a presidenta Dilma Rousseff, em Brasília, para falar sobre o evento.Após o evento no Palácio do Planalto, o mandatário, mesmo com os evidentes atrasos nas obras do Rio de Janeiro, usou o Mundial para passar uma mensagem mais otimista. “O Brasil pode ficar muito orgulhoso da organização da Copa do Mundo e temos certeza de que, durante os Jogos Olímpicos de 2016, o mundo irá ver o que o Brasil representa: paixão e eficiência ao mesmo tempo”.
Os exemplares 30 dias, porém, podem ter chegado ao fim neste domingo. Assim como no Pan-Americano de 2007, também realizado no Rio de Janeiro, tudo funcionou muito bem ao longo do evento, mas os meses seguintes foram de desleixo com as obras construídas, além do retorno de casos de violência e do trânsito caótico. A esperança é de que os mesmos erros não sejam cometidos mais uma vez.

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