Símbolo da ditadura argentina, Videla morre sozinho e na prisão
Embora a família do ex-ditador tenha se mantido em absoluto silêncio e não se saiba a data e o local de seu enterro, a imprensa oficial confirmou que ele será sepultado sem honras, de acordo com a atual legislação argentina, que veta os funerais de integrantes das Forças Armadas que tenham estado envolvidos em causas de violações aos direitos humanos.
Condenado à prisão perpétua pelos crimes da ditadura (1976-1983), a morte lhe surpreendeu na prisão enquanto enfrentava um novo processo pelo Plano Condor.
Sua morte provocou uma reação praticamente unânime entre os grupos de direitos humanos da Argentina, que comemoraram sua condenação e seu encarceramento, mas não deixaram de lembrar que ele leva para o túmulo valiosas informações que teriam permitido avançar na identificação das vítimas da repressão.
Junto com Emilio Massera e Orlando Agosti, Videla liderou o golpe de Estado de 24 de março de 1976 que derrubou a presidente María Estela Martínez de Perón, terceira esposa do três vezes governante Juan Domingo Perón.
Durante seus cinco anos de gestão, organizou a Copa do Mundo de futebol de 1978, com a qual pretendeu limpar a imagem internacional da Junta Militar enquanto se multiplicavam as denúncias por violações de direitos humanos.
Videla também esteve a ponto de declarar guerra ao Chile por uma disputa de fronteira que foi evitada graças à mediação do papa João Paulo II.
Com José Alfredo Martínez de Hoz como ministro da Economia, Videla instrumentou uma política baseada na abertura dos mercados que acabou por destroçar a indústria nacional. Com a economia em recessão, inflação e a moeda desvalorizada, Videla foi sucedido por Roberto Viola em 29 de março de 1981.
Sentado pela primeira vez no banco dos réus durante o histórico julgamento da ditadura militar, em 1985 ele foi condenado pela primeira vez à prisão perpétua.
Anistiado em 1990 pelo governo de Carlos Menem, anos depois o juiz espanhol Baltasar Garzón o incluiu em uma relação de militares e civis argentinos com ordem de prisão internacional por crimes cometidos durante a ditadura.
Em 1998, voltou a comparecer perante a Justiça por crimes contra a humanidade e foi condenado à prisão perpétua em 2010.
Como acusado, um octogenário Videla defendeu a rebelião militar até o último momento e o papel das Forças Armadas no que considerava uma guerra contra a insurreição.
Sua última provocação, em março, foi um apelo a um levante militar para derrubar o governo de Cristina Kirchner, cujo marido e antecessor no cargo, o falecido ex-presidente Néstor Kirchner, ordenou tirar os quadros de Videla e do também repressor Reynaldo Bignone de uma das galerias do Colégio Militar de El Palomar e pediu perdão, como líder, pelos crimes da ditadura.
"É bom que tenha terminado sua vida preso e com uma condenação da justiça da democracia argentina", afirmou hoje o vice-presidente do país, Amado Boudou.
Para a líder da organização Avós de Praça de Maio, Estela de Carlotto, sua morte "é quase um alívio" porque "deixa a face da terra um homem desumanizado, sem escrúpulos para idealizar um plano de extermínio".
"A morte de Videla não deve alegrar ninguém. Foi um homem que passou pela vida fazendo muito dano e traiu os valores de todo um país", disse o prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel.
Macarena Gelman, neta do poeta argentino Juan Gelman e que nasceu enquanto sua mãe estava sequestrada no Uruguai e não soube sua verdadeira identidade até os 23 anos, lamentou, em entrevista à Agência Efe, que o ex-ditador tenha morrido sem dar informações sobre o que ocorreu com os desaparecidos.
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